quinta-feira, 15 de julho de 2010

Mapeamento das casas de religiões africanas no Rio de Janeiro

O ISER participou do lançamento dos dados preliminares da pesquisa “Mapeamento das casas de religiões africanas no Rio de Janeiro”, realizada pela PUC-RIO com recursos do Ministério da Igualdade Racial e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. No encontro, compuseram a mesa de apresentação e diálogo sobre a pesquisa o Ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, a Dep. Estadual Inês Pandeló, as professoras da PUC-RIO e pesquisadoras responsáveis, Sônia Giacomini e Denise Pini da Fonseca, membros do Conselho Griot, Pai Pedro Miranda e a Ialorixá Beata D’Iyemonjá, mais conhecida como Mãe Beata. O lançamento, ocorrido no dia 30 de junho, na Alerj, foi apresentado por Flávia Pinto, idealizadora desta pesquisa que tem como objetivo disponibilizar o quantitativo de Terreiros de Umbanda e Candomblé no Rio de Janeiro com vistas à “construção de políticas públicas para as comunidades de terreiros e uma ação na luta pela liberdade religiosa”.

Os resultados apresentados neste dia são fruto de dois anos de trabalho realizado pelo Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente – NIMA -, e pelo Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente – NIREMA/PUC-RIO sob a assessoria do Conselho Griot, composto por quatorze autoridades religiosas divididas igualmente entre representantes do Candomblé e Umbanda.

Até junho de 2010 foi realizada pesquisa de campo em 631 casas. Segundo Sônia Giacomini, um número quatro vezes maior que este aguarda agendamento. Entre as informações preliminares disponibilizadas constam:

1) As casas de umbanda e candomblé estão predominantemente na Baixada Fluminense;

2) Recorrência de relatos de intolerância religiosa (num primeiro momento os entrevistados dizem que não há intolerância contra eles, mas, ao longo da entrevista realizada narram fatos que revelam a ocorrência destas situações);

3) Todas as casas têm trabalho social. São considerados trabalhos sociais pelos entrevistados desde consultas espirituais abertas à comunidade a atendimento de saúde, distribuição de cestas básicas, parceria com poder público, criação de ONGs;

4) O registro de intensos conflitos e disputas entre as distintas casas pesquisadas nublando idealizações sobre a existência de consenso e harmonia neste campo religioso;

5) O registro da existência, na cidade, de lugares de sociabilidade de adeptos das religiões de matriz africana. Exemplo disto seria o Mercadão de Madureira;

Em concomitância com a apresentação dos dados e análises da pesquisa, foi lançado um site que possibilita a busca dos terreiros mapeados e de informações cadastrais destes.

O auditório estava repleto de participantes da pesquisa, pesquisadores interessados na temática e representantes de casas de umbanda e de candomblé do estado. Depois da detalhada e animada exposição de Flávia Pinto sobre o site, Pai Pedro Miranda, da União Espiritista de Umbanda do Brasil (UEUB), falou sobre a importância deste segmento religioso para o “aprimoramento da sociedade brasileira através do que é pregado e realizado em nossas casas e terreiros”.

Em uma exposição inflamada que emocionou a platéia, Mãe Beata recorreu à mitologia dos Orixás para homenagear o Ministro Edson Santos a quem chamou de Aroni que, nesta mitologia, representa um protetor. Mãe Beata disse que o ministro é o “brilhante negro do Brasil”, um “homem de lisura e palavra” e pediu: “não nos abandone”. Agradeceu ao ministro por ter acreditado na proposta de pesquisa fazendo de tudo para que ela fosse realizada. A importância política deste apoio para os adeptos das religiões de matriz africana é imenso, afirmou Mãe Beata, pois, ainda segundo ela, a discriminação marcou historicamente estes seguidores dos Orixás. Em suas palavras: “Pensam que somos ignorantes, mas nós somos sábios. Quando nos negam as coisas é porque têm medo do que podemos”. Com estas palavras foi encerrado e evento com palmas vigorosas de todos os presentes.

Fonte: ISER