Pelo décimo quarto ano consecutivo a Associação Comunitária Alzira do Conforto...

... realiza, no mês de agosto, a Caminhada Azoany, evento realizado no dia de comemoração a São Lázaro, que consiste em um cortejo com saída do Pelourinho até a Igreja de São Lázaro, no Bairro da Federação, momento onde os adeptos da religião de Matriz Africana, (candomblé) agradecem ao Orixá, Inkisse.

Azoany, com é conhecido no Jejé, é o Deus de saúde e morte, o Orixá, Inkise que esta em plena consonância e contato com a humanidade, buscando através do dia a dia a solução de problemas que atingem a matéria humana.

No dia 16 de agosto de 2012 completou 14 anos que um grupo de pessoas ligadas ao Candomblé e a Igreja Católica, resolveram partir do Pelourinho em direção a Igreja de São Lázaro, para comemorar o dia de São Lázaro e Azoany (Omolú, Obaluaê), para reverenciar e cumprir promessas em agradecimento. Atotô, Obaluaê!
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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

BA: Incra e Fundação Palmares devem se manifestar sobre Quilombo

O governo federal decidiu incluir o Instituto de Colonização Nacional e Reforma Agrária (Incra) e a Fundação Palmares no processo que discute a posse da área do Quilombo Rio dos Macacos, na Bahia. De acordo com o chefe de gabinete da Secretaria Geral da Presidência da República, Diogo Sant’Ana, as duas entidades, que reconheceram o território como remanescente de quilombo, devem se manifestar no processo informando a conclusão do estudo antropológico realizado.
“O Incra e a Fundação Palmares devem se manifestar no processo. Essas entidades vão tomar a iniciativa de informar à Justiça que há uma certificação e um relatório em curso, identificando que a área é coincidente entre a Marinha e o quilombo. Dessa forma, não cabe, no nosso entender, uma ação de reintegração de posse. O governo que evitar a todo custo que haja uma reintegração de posse forçada na região”, disse Sant’Ana.
O quilombo fica próximo à Base Naval de Aratu, no município de Simões Filho, região metropolitana de Salvador. A área é reivindicada na Justiça pelas famílias de quilombolas e pela Marinha do Brasil, que instalou uma vila militar no terreno.
Na opinião de Sant’Ana, a decisão da Justiça Federal tomada no dia 3 de agosto, que determina a saída dos quilombolas da área, interfere de forma negativa nas negociações que estão em curso entre o governo e a comunidade que ocupa o terreno. “Essa decisão só prejudica os esforços que estamos fazendo para se chegar a uma solução consensual”, disse Sant’Ana.
A decisão de reintegrar a área foi tomada pelo juiz Evandro Reimão dos Reis, da 10ª Vara Federal Cível da Bahia, em sentenças idênticas proferidas sobre dois dos três processos que correm na Justiça sobre o assunto. Os processos, no entanto, não fazem referência às petições protocoladas pela Advocacia-Geral da União (AGU) pedindo a suspensão da reintegração de posse pelo prazo de 90 dias.
“O fato concreto é que as petições não foram consideradas pelo juiz que proferiu a sentença. No nosso entender, essa é uma decisão equivocada”, disse o representante do governo.
Diogo Sant’Ana é quem coordena o diálogo de setores do governo com os quilombolas. Em reunião no último dia 31 de julho, as duas partes chegaram a firmar um acordo de diálogo, que incluía a suspensão da reintegração de posse pedida pela AGU.
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http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI6067821-EI306,00-BA+Incra+e+Fundacao+Palmares+devem+se+manifestar+sobre+Quilombo.html

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Realocação (não) é principal motivo de impasse entre governo e quilombolas da Bahia


Basta ler a matéria com consciência, considerando a cultura e as tradições, as árvores centenárias e, ainda, o acesso ao rio que deu o nome à comunidade, para entender que não se trata de mera mudança de domicílio, com direito a água, luz e esgoto. O que está em pauta é a garantia de seus direitos, de sua cidadania e dignidade, no que diz respeito aos Quilombolas. E, no que concerne ao governo, trata-se sumariamente de respeitar a Constituição, a Convenção 169 e as leis que o próprio Executivo criou, todas garantindo os direitos da comunidade a permanecer em seu território ancestral. TP.
Luciana Lima, Repórter da Agência Brasil
Brasília – Mesmo com a conclusão do relatório elaborado pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que reconhece que a área do Quilombo Rio dos Macacos, na Bahia, como uma terra remanescente de escravos, a proposta em elaboração pelo governo ainda cogita a realocação das famílias quilombolas para um terreno localizado a 500 metros do local. Esse é o principal ponto de divergência entre os moradores e o governo, e faz com que o impasse continue.
O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, se reuniu ontem (1º) com o ministro da Defesa, Celso Amorim, para tratar do assunto. Ao final do encontro, Carvalho se disse confiante em um acordo. “Nós estamos fazendo uma proposta para a população e esperamos que ela possa ser aceita”, disse, ao comentar a contraproposta da Marinha em ceder parte da área que considera de sua propriedade para que os quilombolas possam ter uma entrada independente à região.
“Eu acho que a Marinha foi flexível, fez uma oferta, uma proposta de realocamento do pessoal de maneira que preserva a dignidade das pessoas e agora nós estamos em uma fase de negociação com a comunidade lá”, destacou o ministro. “Nós vamos ter uma segunda conversa dentro de uns 15 dias e estamos com esperança de que cheguemos a um acordo.”
O quilombo fica a poucos metros da Base Naval de Aratu, no município de Simões Filho, região metropolitana de Salvador. A posse da terra é objeto de uma disputa entre a Marinha do Brasil, que considera a terra de sua propriedade, e os quilombolas. Desde 2010, a Marinha pretende ampliar as instalações da base, onde residem 450 famílias de militares.
Em reunião com os quilombolas, o governo acenou com a possibilidade de construção das casas no terreno a ser oferecido seguindo os moldes escolhidos pela comunidade e disponibilizar também serviços básicos, como fornecimento de energia elétrica, água tratada, coleta de lixo, escola e saneamento básico.
Os quilombolas alegam que o lugar onde moram atualmente é o único com acesso ao rio, após a construção de uma barragem. De acordo com o advogado de defesa dos quilombolas, Maurício Correia, continua firme a posição da comunidade em permanecer no local. Ele informou que a posição é reforçada, principalmente, pelo relatório do Incra.
“A população se mantém firme na posição de não sair da área. Muitos têm umbigo enterrado nas mangueiras e o respeito à relação da comunidade com o local onde mora é previsto na Constituição”, disse o advogado. “Além disso, o local onde atualmente se encontra a população é o único com acesso ao rio, desde que a  barragem foi construída. Sair da terra tradicionalmente sua também cria um precedente perigoso”, argumentou.
Na comunidade, ao lado da base naval que já foi usada como destino de férias dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma Rousseff, não há esses serviços básicos.
“O que tem de energia elétrica lá vem de uma ligação clandestina. Em toda a comunidade, há uma geladeira que é usada de forma coletiva pelos moradores. Não há esgotamento sanitário e fornecimento de água tratada”, disse o advogado.
Segundo os moradores, a Coelba, companhia de eletricidade da Bahia, tentou, sem sucesso, negociar com Marinha uma autorização para instalar linhas elétricas na comunidade. Para se chegar ao local, é necessário passar pelo controle da Marinha, já que não existe acesso independente.
Os moradores reclamam ainda que o esgoto das casas das cerca de 450 famílias residentes na base naval tem sido jogado sem tratamento na barragem.
Hoje (2), os quilombolas tiveram acesso a uma cópia do relatório do Incra, que não foi publicado oficialmente até o momento, medida que daria valor legal ao documento. De acordo com o advogado, na reunião com o governo, os quilombolas concordaram em tratar da publicação e de iniciar as negociações somente após analisarem o documento.
Uma nova reunião ocorrerá dentro de 15 dias. As negociações têm sido conduzidas pela Secretaria-Geral da Presidência da República com o envolvimento de outras áreas do governo, como a Secretaria de Políticas para Promoção da Igualdade Racial (Seppir), a Advocacia-Geral da União (AGU) e o Ministério da Defesa.
Edição: Carolina Pimentel
http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-08-02/realocacao-e-principal-motivo-de-impasse-entre-governo-e-quilombolas-da-bahia

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O extermínio negro direto e indireto como parte do projeto de poder no Brasil

Por Douglas Belchior*

Muito se diz sobre a prioridade em diminuir a miséria e as diferenças sociais no Brasil. No entanto, há pouca reflexão sobre o quanto a miséria e a marginalização da maior parte da população são fundamentais para o projeto de poder das elites racistas do país.

A superação da pobreza depende, fundamentalmente, do rompimento com os interesses do grande Capital, no Brasil representado por latifundiários e empresários do agronegócio; por banqueiros, especuladores financeiros e empresas multinacionais de diversas áreas. Somente uma mudança estrutural nas relações políticas, sociais, raciais e econômicas será capaz de eliminar as desigualdades em nosso país.

Há sim uma histórica e permanente divisão de classes composta por um lado pelos personagens já citados acima, por outro pela massa empobrecida, trabalhadores e desempregados em todos os níveis. Mas, chamamos a atenção em particular para situação da população negra no Brasil. O racismo tem ditado a dinâmica das relações sociais desde a falível abolição da escravidão, há 123 anos.

A população pobre que se declara parda ou preta é quase o triplo da que se declara branca, de acordo com dados do Censo 2010.

Em maio de 2011 o governo federal definiu para o limite da miséria – renda de até R$ 70 por mês – e divulgou que 16,2 de pessoas se encaixam nele. Uma semana depois, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou a cor ou raça declarada deste grupo de pessoas. De acordo com os dados, 4,2 milhões dos brasileiros pobres se declararam brancos e 11,5 milhões pardos ou pretos – isso significa que o número de pobres negros é 2,7 vezes o número de pobres brancos.

Não bastassem as mazelas sociais que afligem historicamente a população negra por meio do subemprego, do desemprego, da falta de moradia, dos serviços precários de saúde e educação, da falta de oportunidades e do desumano e permanente preconceito e discriminação racial em todo e qualquer ambiente social, percebe-se a vigência de um projeto de extermínio da população negra, por parte do Estado brasileiro.

O Estado e suas policias mantém uma atuação coercitiva, preconceituosa e violenta dirigida a população negra. Desrespeito, agressões, espancamentos, torturas e assassinatos são práticas comuns destas instituições.

Em julho de 2009 a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, UNICEF e o Observatório de Favelas divulgam resultados de sua pesquisa, e os dados são estarrecedores: 33,5 mil jovens serão executados no Brasil no curto período de 2006 a 2012. Os estudos apontam que os jovens negros têm risco quase três vezes maior de serem executados em comparação aos brancos.

Conforme o “Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil”, em 2002, em cada grupo de 100 mil negros, 30 foram assassinados. Esse número saltou para 33,6 em 2008; enquanto entre os brancos, o número de mortos por homicídio, que era de 20,6 por 100 mil, caiu para 15,9. Em 2002, morriam proporcionalmente 46% mais negros que brancos. Esse percentual cresce de forma preocupante uma vez que salta de 67% para 103%.

De acordo com o mesmo Mapa, constata-se que o grau de vitimização da população negra é alarmante: 103,4% maiores as chances de morrer uma pessoa negra, se comparada a uma branca; sendo 127,6% a probabilidade de morte de um jovem negro [de 15 a 25 anos] à de um branco da mesma faixa etária.

Cada vez mais explícitos, os casos de violência policial furam o bloqueio da grande mídia, causando comoção e provocando a atenção da opinião pública a cerca desta realidade. O último grave acontecimento foi a do desaparecimento do menino negro Juan Moraes, morto aos 11 anos pela polícia do Rio de Janeiro. O genocídio negro já é admitido por parte imprensa nacional, a exemplo do jornal Correio Braziliense, que após cruzar dados de mortalidade por força policial do Ministério da Saúde e das ocorrências registradas nas secretarias de Segurança Pública do Rio de Janeiro e São Paulo, revelou que a uma pessoa é morta no Brasil pela polícia a cada cinco horas e que 141 assassinatos são realizados por agentes do Estado a cada mês.

Ainda segundo o estudo, Rio de Janeiro e São Paulo concentram 80% dos assassinatos cometidos por policiais no Brasil. Em 2009, 1.693 pessoas foram mortas por policiais. Em 2010, esse número aumentou: foram 1.791. Os números mostram que 70% dos mortos são jovens de 15 a 29 anos.

Soma-se a esse quadro, a ação genocida indiretamente promovida através do encarceramento em massa de jovens e adultos em internatos, fundações, institutos de recuperação, cadeias, penitenciárias e presídios. Espaços onde a tortura e o completo desrespeito aos direitos humanos são rotina. A subserviência e a aliança entre grupos políticos e empresários junto ao tráfico internacional de drogas e o consequente mercado ao mesmo tempo fascina pelo “ganho” fácil, coopta e vitimiza a juventude, em especial a população negra.

O complemento à política genocida deste estado vê-se a olhos nus nas áreas da Educação e Saúde. A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) divulgada no final de 2010 demonstra que o Brasil ainda possui 14 milhões de analfabetos. Apenas 23% dos brasileiros maiores de 25 anos concluíram o ensino médio.

Outro estudo, (Laeser/IE-UFRJ), aponta que a taxa de analfabetismo entre os negros é maior do que o dobro se comparada a da população branca. Dos 6,8 milhões de analfabetos que frequentaram a escola entre 2009 e 2001, 71,6% eram pretos e pardos.

Na Saúde, esse mesmo estudo (Laeser/IE-UFRJ) revela que existe um abismo entre brancos e negros no acesso à saúde pública e que essa desigualdade perpassa o Sistema Único de Saúde (SUS), onde, por exemplo, em relação ao Pré-Natal, 71% das mães de filhos brancos fizeram mais de sete consultas; o número de mães de filhos negros que passaram pelos mesmos exames é 28,6% inferior. No geral, a população negra é a mais necessitada do SUS e também aquela que tem mais dificuldade ao acesso.

Pesquisas e estudos demonstram no campo da formalidade o que vivenciamos no dia a dia de nossas comunidades. Presenciamos um momento de ofensiva de opressões por parte do Estado Brasileiro que por sua vez, enxerga na população empobrecida, em especial na juventude negra, seu principal inimigo. Aos movimentos populares cabe a permanente denuncia e a teimosia em organizar a população para a resistência e ação.

A UNEafro-Brasil soma-se a esse esforço no cotidiano de sua atuação nos Cursinhos Comunitários e nos Núcleos de Cultura. Assumimos o desafio de, devagar e sempre, fomentar uma nova mentalidade, crítica, questionadora e sedenta por transformações, elementos tão necessários para a organização da classe trabalhadora e para a nossa vitória.

*Douglas Belchior, Professor de História e Membro do Conselho Geral da UNEafro-Brasil

sábado, 6 de agosto de 2011

1º ENIPAN - Encontro Internacional Panafricano

A Bahia sediará no mês de agosto o renascimento do panafricanismo, que pretende ser o maior da história do Brasil.

No próximo mês de agosto, de 13 a 17, a Bahia sediará nas cidades de São Francisco do Conde e Salvador o considerado maior evento panafricanista da era moderna, que teve lançamento em Paris, no final de abril. Na capital da Bahia, o I Encontro Internacional Panafricano, acontecerá no Centro Cultural da Câmera de Salvador, com a participação de autoridades e intelectuais de renome internacional, conforme programação. O evento é parte do projeto Ano Mundial do Renascimento Panafricano, cujo ápice se dará em 2013, em um país da Europa.


Há dois anos este projeto vem sendo construído por com um comitê de iniciativas, composto por intelectuais panafricanos de várias nacionalidades.


O acontecimento tem o protagonismo da Associação França – Bahia, em parceria com o África900 –Centro de Referência Política, entidades do movimento social organizado, com foco nas questões raciais e no novo processo de desenvolvimento integrado e sustentável. Salvador e São Francisco do Conde foram escolhidas como cidades-sedes, não só pelo seu perfil étnico e cultural afrodescendente, como pelo significado histórico e político marcantes, nas lutas pela Independência do Brasil, sendo que São Francisco ainda contabiliza particularidades econômicas impactantes, tanto no Brasil Colônia, na era do ciclo do açúcar, como no Brasil República, em que se sobressai na produção do petróleo. A cidade foi também destaque em anos recentes, na primeira eleição do Presidente Lula, apresentando pela primeira vez a maior votação proporcional a um candidato à Presidência da República, em torno de 98%.

Outra referência de destaque da cidade é o fato de ser gerida por uma mulher negra, que desenvolve um projeto de resgate dos valores étnicos do município, para ser a irmã de Salvador na qualificação de uma “Roma Negra”. Com tantas referências civilizatórias conhecidas no mundo inteiro, estes municípios só poderiam ganhar a condição de sedes brasileiras do primeiro encontro internacional panafricanista, celebrando o renascimento africano, rumo ao desenvolvimento moderno. E assim pretende-se construir uma ponte importante para a Bahia de todos Nós em seu processo de articulação continuada com toda sua população.

CONSTRUÇÃO CIVILIZATÓRIA PARA O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO

Essa iniciativa pretende provocar um despertar coletivo, da consciência critica que permita uma verdadeira revolução conceitual, tanto local, estadual, como nacional e internacional, valorizando as contribuições africanas para a civilização mundial, por meio de um conjunto de realizações em toda a diáspora para a humanidade.

Estas experiências, materiais e imateriais, vêm sendo derramadas de forma generosa e contributiva no universo terrestre, desde as mais remotas formas de civilizações da antiguidade, até os tempos modernos. Estas contribuições estão enraizadas, em todas as áreas no ramo das artes, ciência, cinema, literatura, política, tecnologias, saúde, gastronomia, economia, ecologia e religião, entre outras, com o objetivo de vencer o isolamento geográfico e ou lingüístico para atingir uma dimensão que perpasse o velho e arcaico conceito de superioridade entre as raças e, ao mesmo tempo, traçar uma estratégia de disseminação desta informação, que se apresente didática, popular e provocadora de um novo processo de desenvolvimento econômico integrado e sustentável. Cogita-se muitos negócios para serem empreendidos nesta nova construção civilizatória, assunto que está na pauta da conferência do I Enipan.


No intuito de lançar as primeiras bases desse evento mundial, convidamos toda a sociedade para participar e se apropriar deste tema, que trará para a Bahia, e para o Brasil, excelentes oportunidades de negócios, assim como se transformará em um convite oportuno na preparação de uma parte significativa da população brasileira, a participar definitivamente dos benefícios e partilha das riquezas reais, materiais e cientificas deste que, certamente, é o nosso grande país. Fomos nós, os afrodescendentes, que ajudamos com muito trabalho (físico e mental), sacrifício, sangue, suor, e lágrimas amargas, capazes de formar um inestimável patrimônio, construindo riquezas, e dando contribuição intelectual e cientifica, sem precedentes na historia da construção de um próspero e rico Pais.


1ª ENIPAN – ENCONTRO INTERNACIONAL PANAFRICANO


Serviço: 1º ENIPAN – Encontro Internacional Panafricano
Quando: de 13 a 17 de Agosto 2011 – Bahia – Brasil
Onde: São Francisco do Conde – Recôncavo Baiano (Câmara de Vereadores de SFC – Orla Marítima do Município – Abertura dia 13 de Agosto – Sábado, as 19:00h), em Salvador (Centro Cultural da Câmara, Praça Municipal s/n – Conferencia dia 17 de Agosto – quarta-feira, das 8 às 12 horas, e das 14 às 19 horas).

Informações: Telefones (55-71)8709-0312 // (55-71)9175-0442 /// (55-71)-3651-8619 – E-mail: aseydou@bol.com.br / 1enipan@hotmail.com.br

Fonte: Recebido por e-mail.


Direitos Humanos fará audiência sobre preconceito e racismo

Agência Câmara de Notícias

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias vai realizar audiência pública, em data a ser definida, para discutir o tema “Preconceito, Intolerância e Racismo”. Na ocasião também será discutido o racismo e o preconceito que os ciganos e judeus sofrem e a intolerância que se abate sobre esses grupos.

A deputada Janete Rocha Pietá (PT-SP), autora do pedido, explica que o programa Conexão Repórter exibido pelo SBT, no dia 1º de junho de 2011, abordou o tema Preconceito, Intolerância e Racismo, que se desenvolveu através de minuciosa investigação do racismo no Brasil.

“As imagens transmitidas demonstram o quanto o Brasil, um País de natureza multicultural, ainda está longe de alcançar um patamar livre do preconceito e intolerância racial.” Pietá acrescentou que “é lamentável ainda existir neste País o racismo, cuja pratica tornou-se crime desde a promulgação da Constituição de 1988”, lembrou.

“Temos de procurar meios de colocar em prática, de forma mais incisiva e rigorosa, o que dispõe o Estatuto da Igualdade Racial destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades”, disse.

Deve ser convidado para participar do debate o jornalista e apresentador do programa, Roberto Cabrini.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Videoconferência SEPPIR: Participação das Mulheres nas Conferências Nacionais (Parte IV)











Videoconferência SEPPIR: Participação das Mulheres nas Conferências Nacionais (Parte III)










Videoconferência SEPPIR: Participação das Mulheres nas Conferências Nacionais (Parte II)










Videoconferência SEPPIR: Participação das Mulheres nas Conferências Nacionais (Parte I)










quinta-feira, 4 de agosto de 2011

CONAQ – IV Encontro Nacional dos Quilombolas começou ontem à noite



No vídeo (caseiro) acima, a fala de Maria Rosalina dos Santos, vereadora no Piauí, abrindo o IV Encontro Nacional da CONAQ, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, inteiramente lotada. Na mesa estava presente também a Secretária Maria Luiza de Barrios, da SEPPIR, entre políticos e representantes de órgãos públicos. Os trabalhos estão continuando desde a manhã de hoje, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ. TP.

IV Encontro da CONAQ: “Políticas Públicas para as Comunidades Quilombolas”


O segundo dia do IV Encontro Nacional das Comunidades Quilombolas foi praticamente todo dedicado ao debate sobre as Políticas Públicas. Perante um auditório que sequer comportava tod@s os quilombol@s presentes, estavam @s responsáveis pelas questões quilombolas no Ministério da Saúde, da Fundação Cultural Palmares, Ministério do Desenvolvimento Agrário, INCRA, SEPPIR, Petrobrás e, ainda, José Jairo Vieira, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Se as falas iniciais foram tranquilas, as cobranças foram muita vezes duras, mas sempre justas. A partir da abertura por Vânia Santana, da Petrobrás, quilombolas como “Nega”, da Ilha da Maré, Bahia, que viu seu companheiro morrer graças ao SUS, e que é uma das lideranças da luta contra a poluição na Bahia do Todos os Santos, se impuseram com os seus questionamentos. E as perguntas se prolongaram noite adentro. 

Fonte: 

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Registro do Evento Troféu Pérolas Negras Benedita da Silva

Audiência Pública sobre Identidade quilombola e o Acesso às Políticas Públicas

O evento irá ocorrer em 1 de agosto, às 18:30hs, no Centro Cultural da Câmara dos Vereadores , em Salvador

A audiência pública intitulada “Identidade Quilombola e o Acesso às Políticas Públicas” iniciativa da Comissão da Reparação da Câmara dos Vereadores, presidida pela vereadora Marta Rodrigues, irá debater sobre a importância da afirmação da identidade quilombola no processo de defesa dos direitos constitucionais e das respectivas políticas públicas. O evento irá contar com a presença do Secretário Elias Sampaio (SEPROMI), Alexandro Reis, diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro da Fundação Cultural Palmares, Silvany Euclênio, diretora dos Programas da Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais da SEPPIR, Secretário Carlos Brasileiro (SEDES),Secretário Ailton Ferreira (SEMUR), Eduardo Jorge Gomes(SEDIR), José Vivaldo Mendonça, diretor da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional( CAR), Deputado Estadual Bira Côroa, Valmir dos Santos, do Conselho Estadual dos Quilombolas da Bahia e a jornalista e diretora do documentário “SER QUILOMBOLA”, Jaqueline Barreto.

A audiência será iniciada pela exibição do documentário “SER QUILOMBOLA” cuja produção audiovisual discorre sobre os principais elementos que constituem a identidade quilombola a partir das comunidades de São Francisco do Paraguaçu e Porteiras, localizadas, respectivamente, nos municípios de Cachoeira e Entre Rios.Relação com a terra, laços de parentesco, racismo, tradições que se reinventam e autoestima são alguns dos assuntos abordados. “Ser Quilombola” conta com a participação dos historiadores Ubiratan Castro e João José Reis, da socióloga e professora da Universidade Federal da Bahia, Lídia Cardel, da ex-representante da Fundação Cultural Palmares, Luciana Mota, e do sociólogo Walter Altino.

O documentário aborda os dois critérios do decreto 4.887/03 que está sob ameaça no Supremo Tribunal Federal: territorialidade e autodefinição. Além disso, representa um direito de resposta da comunidade de São Francisco do Paraguaçu à reportagem exibida pela Rede Globo no Jornal Nacional. Resultado do Trabalho de Conclusão de Curso de jornalismo, da Faculdade Social da Bahia, sob orientação de Jussara Maia e colaboração dos jornalistas Midiã Santana e Deraldo Leal, pretende ser utilizado como instrumento político que estimule a autoestima quilombola e a necessidade de afirmação da identidade como instrumento de acesso às políticas públicas.

Fonte: Recebido por e-mail.

sábado, 30 de julho de 2011

Relatório aborda questões sobre desigualdades raciais no Brasil

A Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), com o apoio da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), Fundação AVINA e HEIFER Internacional, lançaram na noite de ontem (28) o Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2009-2010 em Salvador, Bahia, região Nordeste do estado brasileiro.

O relatório é uma publicação do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (LAESER) da UFRJ, que tem como coordenador o professor Marcelo Paixão, também responsável pela pesquisa.

Segundo Marcelo, o relatório tem como eixo o tema das desigualdades e monitoramento através dos indicadores econômicos, sociais e demográficos e “servirá de base para monitorar as construções das políticas públicas raciais no país”. O relatório quer também observar os avanços e recuos existentes no Brasil em termos de igualdade em todos os níveis.

Para Marcelo, “o relatório tem que ser conhecido e amplamente divulgado em todo país”. Ele foi lançado em Porto Alegre (RS), na semana passada, Rio de Janeiro, Salvador, e na próxima semana em São Paulo. “Trata-se de um trabalho acadêmico, no entanto, suas informações falam não somente de dados, mas de vidas”, afirma.

O relatório aponta questões como: evolução demográfica da população brasileira segundo raça e cor; perfil da mortalidade; desigualdade de cor ou raça no acesso a educação; desigualdade no mercado de trabalho; condições materiais de vida e acesso ao poder institucional, políticas públicas e marcos legais.

O material é sugerido aos estudiosos do tema, ativistas do movimento negro, dos movimentos sociais diversos e entidades afins. Contém 83 gráficos, 90 tabelas, 37 boxes, 10 quadros e 13 mapas.

A coordenação do laboratório sugere que outras instituições tomem a mesma iniciativa, elaborando um relatório das desigualdades no seu estado. Outra sugestão é se cadastrar no fichário eletrônico das desigualdades raciais, no site do laboratório http://www.laeser.ie.ufrj.br, e buscar os grupos indicadores.

Alguns casos de Desigualdades no Brasil

Para exemplificar tamanha desigualdade existente no país, na área da saúde, por exemplo, os índices de mortalidade infantil revelam que para cada mil crianças nascidas vivas 37,3 são brancas e 62,3 negras morrem antes de completarem um ano. Para os casos de violência, a taxa de homicídio entre os brancos é de 38,1%, e para os negros 52,6% na faixa etária entre 15 e 25 anos. Os dados são do site Mundo Negro.


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Tributo a mulheres negras traz Benedita da Silva, Antonio Pitanga e Neusa Borges à Bahia

Uma premiação a mulheres negras baianas que se destacaram na sua área de atuação ou na defesa da promoção da igualdade reunirá, nesta sexta-feira (29), em Camaçari, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) e os atores Antonio Pitanga e Neuza Borges. As homenageadas receberão uma placa honorífica que leva o nome da ex-governadora do Rio de Janeiro – Troféu Pérolas Negras Benedita da Silva – no evento que começa às 19 horas, no espaço Armazém, bairro Camaçari de Dentro.

A iniciativa é do mandato do deputado estadual Bira Corôa (PT-BA), presidente da Comissão de Promoção da Igualdade da Assembléia Legislativa da Bahia, e faz parte da programação ao Dia Internacional da Mulher Negra na América Latina e no Caribe, o 25 de julho. “Benedita da Silva é símbolo da luta de gênero e raça no País, primeira senadora e governadora negra brasileira. Das suas mãos, nossas pérolas negras estarão recebendo mais que uma honraria”, afirma o parlamentar.

A participação da atriz catarinense Neuza Borges, que interpreta a Dalva na reprise da novela “O Clone”, da TV Globo, é especial. O Legislativo estadual aprovou projeto que concede a ela título de Cidadã Baiana, uma proposta de Bira Corôa, que quis incluí-la no rol das homenageadas. “A sua resposta quando da nossa indicação foi tão generosa que decidimos entregar o troféu a essa atriz que se destaca como militante pela igualdade racial no Brasil”, afirma o deputado.

A entrega do troféu marca também pela diversidade no perfil das homenageadas. Entre elas tem juíza, pescadora, advogada, prefeita, líder religiosa, professora, mestra de capoeira, liderança comunitária, baiana de acarajé, atriz, jornalista, quilombola e sindicalista. O evento contará com apresentação de grupos culturais, com música e poesia.

Trajetória de Benedita
Benedita da Silva nasceu em 1942 na cidade do Rio de Janeiro, é formada como auxiliar de enfermagem e formação em Serviço Social. É casada com o ator Antônio Pitanga, que é pai de Camila e Rocco Pitanga. Foi vereadora (1982), deputada federal em 1986, reeleita para o segundo mandato em 1990. Em 1994, tornou-se a primeira mulher negra a ocupar uma vaga no Senado. Foi eleita vice-governadora do Rio de Janeiro em 1998 e, com a renúncia de Anthony Garotinho para concorrer à Presidência da República, assumiu o governo em abril de 2002, tornando-se a primeira mulher negra a governar um Estado brasileiro. Assumiu a Secretaria Especial da Assistência e Promoção Social, com status ministerial no Governo Lula e, em janeiro de 2007, a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, no Governo Sérgio Cabral Filho. Em 2010, elege-se, mais uma vez, deputada federal.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Audiência Pública: A População Negra e a Política de Transplante de Órgãos de Doação de Medula Óssea


terça-feira, 26 de julho de 2011

A cor dos brasileiros e a chaga do racismo

José Carlos Ruy

O racismo é uma chaga, como ficou demonstrado por dois acontecimentos dos últimos dias. No mais cruel deles, um extremista de direita norueguês, que não merece ter seu nome mencionado, matou 76 pessoas em Oslo para, como admitiu, iniciar uma guerra racial “em defesa da Europa”. Ele se apresenta como antimuçulmano, odeia negros, árabes e migrantes, e quer a supremacia branca sobre o mundo, portando-se como uma espécie de “cruzado” em pleno século 21!

O outro acontecimento envolve as manifestações racistas postadas na internet contra a nova Miss Itália Nel Mondo 2011, a brasileira Silvia Novais. Ele não é tão sanguinolento mas está na raiz de comportamentos criminosos como este do atirador direitista de Oslo; Seus autores são direitistas europeus partidários da supremacia branca e, como não podia deixar de ser, de Adolf Hitler. E que, como o criminoso de Oslo, não suportam negros, árabes, judeus, imigrantes e outros seres humanos que não partilham suas origens étnicas, seus preconceitos e seus interesses.

Para nós, brasileiros, estes acontecimentos não podem ser encarados como realizações de “desequilibrados mentais”, como usualmente se pensa e difunde. Ao contrário, eles dizem respeito diretamente a nós e à nossa identidade como brasileiros – como demonstra, sobejamente, a agressão contra Sílvia Novais. Somos os habitantes de um país encarado pelos supremacistas eurocêntricos como racialmente inferior que, nas condições atuais do mundo, faz parte do conjunto de nações que ameaça o predomínio do “Ocidente” – isto é, de países como Estados Unidos ou daqueles que formam a União Europeia.

Isso num momento em que os brasileiros estão acertando as contas com sua própria identidade, como revelam os resultados divulgados dia 22 da “Pesquisa das Características Etnorraciais da População: um Estudo das Categorias de Classificação de Cor ou Raça” feita pelo IBGE em 2008, em 15 mil residências no Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal. Ela mostrou que metade dos brasileiros se consideram “brancos” (50,3% do total, incluindo minorias que se declaram alemães, italianos ou “claros”), ao lado de outra metade (48,4%) que se autoclassificou em identidades não-brancas, como morenos, pardos, negros, pretos, índios, amarelos e outras variedades de tonalidade da pele.

Está para lá de demonstrado que não existem raças entre os seres humanos, e muito menos uma hierarquia que possa distinguir segmentos superiores e inferiores com base na cor da pele ou de origens étnicas. O trauma terrível provocado pelas práticas nazistas esteve na base da condenação e desmoralização, inclusive pela ciência, dos preconceitos que levaram ao assassinato em massa de pessoas de origens diferentes durante o governo dirigido por Adolf Hitler. Preconceitos que ainda persistem entre extremistas de direita não apenas na Europa, mas espalhados pelo mundo e também entre nós, brasileiros.

A história do racismo brasileiro é a crônica de uma infâmia que cresceu durante o longo passado escravista e se fortaleceu depois de 1888 e da abolição da escravidão.

Os supremacistas brancos tupiniquins chegaram a tentar marcar uma data para a eliminação final do sangue negro entre nós; alguns pensaram que isso ocorreria em algumas décadas; outros acharam que levaria alguns séculos. Um deles, João Batista de Lacerda, que era diretor do Museu Nacional, sustentou no I Congresso Internacional de Raças, realizado em Londres, em 1911, que em um século a população brasileira teria se livrado dos vestígios negros e seria racialmente branca. A base dessa verdadeira alucinação era a crença vigente de que enquanto sua população fosse formada majoritariamente por negros e mestiços, o Brasil seria incapaz de se civilizar pois esta seria, segundo o racismo imperante, uma prerrogativa de povos brancos e europeus.

Aqueles cem anos se passaram e o “embranquecimento” da população não aconteceu; ao contrário, o que predomina no Brasil são os mestiços de pele morena, indicando uma notável contribuição brasileira para a civilização: a mistura de povos de origens diferentes, que vai constituindo a humanidade do futuro e fundamentando uma civilização que, fortemente influenciada pela Europa, não renega mas incorpora as demais matrizes igualmente fortes e fecundas, formadas pelos povos indígenas e africanos.

Esta é uma das constatações da pesquisa divulgada pelo IBGE e que confirma o que os especialistas já sabiam sobre nosso povo. Mas o quadro está longe do colorido róseo imaginado pelos conservadores brasileiros segundo os quais aqui existiria uma “democracia racial” baseada na tolerância e na mestiçagem. Todos sabemos, no fundo de nossas convicções, que este quadro não é verdadeiro e que o racismo continua sendo uma chaga cotidiana, apesar dos avanços das últimas décadas que resultaram das lutas do movimento negro e dos setores democráticos e avançados do país que também assumem como sua a resistência contra o racismo.

Neste sentido, os resultados da pesquisa são unívocos. Quase dois terços (63,7%) das pessoas entrevistadas (de todos os matizes de pele) reconhece os efeitos do preconceito no dia a dia dos brasileiros. Estes efeitos se manifestam no trabalho (71%), nas relações com a justiça ou a polícia (68,3%), no convívio social (65%), na escola (59,3%), nas repartições públicas 51,3%) e por aí vai. É um escândalo que precisa ser combatido. É o ovo da serpente do racismo que recusa a convivência com a diferença e pode matar, como já ocorreu no passado e repetiu-se em Oslo na sexta-feira.

O racismo brasileiro não é pior nem melhor do que qualquer outra forma de tentar afirmar a superioridade de uma parte da população sobre outra com base na cor da pele ou na origem étnica. Ele é apenas diferente e tão cruel quanto qualquer outro, apesar das particularidades que o distinguem dos demais racismos. Mata e mutila da mesma maneira quanto os demais, com a diferença de que, por aqui, seus efeitos nocivos são disfarçados e não explícitos, como ocorre em outros lugares – basta examinar a estatística de assassinatos ou de mortos pela polícia para se ter uma ideia da dimensão da letalidade do racismo brasileiro.

Uma convivência mais amigável entre os “diferentes” pode ser uma grande contribuição brasileira para a civilização. Mas ela só será efetiva quando nós, brasileiros, conseguirmos superar o racismo que permanece entre nós. E esta será, tenho certeza, uma conquista civilizatória de nosso povo em benefício da humanidade e também das relações humanas dentro de nossas fronteiras.

Racismo sem racistas, por Ana Maria Gonçalves

“Hoje em dia, com exceção de membros de organizações brancas supremacistas, poucos brancos nos Estados Unidos se proclamam “racistas”. A maioria dos brancos afirma que “não vê cor alguma, apenas pessoas”; que embora a face feia do racismo ainda esteja entre nós, não é mais fator central determinando as oportunidades de vida das minorias; e, finalmente, que, como Dr. Martin Luther King Jr, eles sonham em viver em uma sociedade na qual as pessoas sejam julgadas pelo caráter, não pela cor da pele. Mais incisivamente, a maioria dos brancos insiste que as minorias (especialmente os negros) são os responsáveis por “playing the race card” (expressão usada para apontar uso vitimizador e mal intencionado da diferença racial), por exigirem a manutenção de programas desnecessários e divisivos baseados em raças, como ações afirmativas, e por bradar “racismo” sempre que são criticados por brancos. A maioria dos brancos acredita que se os negros e outras minorias simplesmente parassem de pensar no passado, trabalhassem duro e reclamassem menos (particularmente de discriminação racial), então americanos de todas as cores poderiam viver em paz.”

O texto acima é o parágrafo inicial do livro Racism without racists, de Eduardo Bonilla-Silva, sobre o que nos EUA está sendo chamado de “color-blind racism”, ou apenas “color blindness” (algo como o racismo que não leva em conta a cor/raça). Este é apenas um dos muitos estudos publicados sobre esse novo tipo de racismo (para os norte-americanos) que, segundo Bonilla-Silva, é muito parecido com o racismo existente nos países caribenhos e latino-americanos, Brasil incluido. Esse tipo de racismo permite manter os privilégios dos brancos sem alarde, sem nomear aqueles a quem ele submete e aqueles a quem beneficia. Ele deu cobertura para que o ex-presidente Bush (filho), por exemplo, expressando a opinião de muitos norte-americanos, dissesse “Eu apoio enfaticamente todo tipo de diversidade, inclusive a diversidade racial no ensino superior”, ao mesmo tempo em que chamava o programa de ação afirmativa da Universidade de Michingan de “falho”, “inconstitucional” e “discriminatório” contra os brancos.

A universidade de Michigan usa um sistema de pontuação para aprovar seus candidatos, em uma escala que vai até 150 pontos. Se o aluno gabaritar o SAT (uma prova que geralmente envolve matemática, escrita e leitura crítica), ganha 12 pontos, ou 20, no caso de pertencer a alguma minoria. Bush, ao chamar esse sistema de injusto e inconstitucional, esqueceu-se de mencionar o tipo de ação afirmativa do qual se beneficiou, o “legacy admittee”. Através desse sistema, presente nas principais universidades norte-americanas, filhos de ex-alunos, quase todos brancos e ricos, têm preferência na admissão. Isso permitiu que Bush, um aluno média C durante o colegial e com um SAT de 180 pontos abaixo da média norte-americana, fosse admitido em YALE, uma das universidades mais disputadas e bem ranqueadas, seguindo os passos de Bush pai e Bush avô. Esse sistema preferencial ganhou força após a Primeira Guerra Mundial, sob um regime de segregação racial e quando os Estados Unidos estavam recebendo grande fluxo de imigrantes, e ainda hoje garante de 10 a 30% das vagas para filhos de ex-alunos. No livro The Shape of the river, os autores e ex-presidentes de Harvard e de Princeton admitem que os “legacy students” têm quase o dobro de chance de serem admitidos se comparados a alunos sem laços familiares anteriores com as instituições. Embora esse programa seja do tipo de reserva de vagas ele raramente foi citado ao lado de argumentos como “os alunos negros estão tirando vagas de alunos mais capacitados”. Talvez o “color-blind racism” impeça muitos de verem a cor dos privilegiados, assim como a dos desprivilegiados, afinal de contas, “we are all Americans”.

O “color-blind racism” permite que certos privilégios sejam mantidos na era pós Direitos Civis, sem que sejam vistos como tais, já que ninguém é impedido de entrar onde quiser, de frequentar as escolas para as quais se qualifica, de usar os banheiros públicos mais convenientes, de se casar com a pessoa pela qual se apaixona (embora mais de um terço dos norte-americanos desaprove os casamentos inter-raciais, porque estão preocupados com o bem-estar dos filhos dessas uniões), ou de ocupar qualquer acento vago nos ônibus, trens e metrôs. A eleição do primeiro negro presidente dos Estados Unidos da América, como afirmaram muitos americanos, inclusive negros, era a prova de que o país não era mais racista, que os negros não teriam mais desculpas para explicar as desigualdades sociais, políticas, culturais e econômicas em relação aos brancos. Era a prova, festejavam muitas mães negras, de que o “american dream” também estava disponível para seus filhos, que seriam os únicos responsáveis pelo próprio sucesso ou fracasso. Enfim, chegava ao país a tão sonhada democracia racial.

Em sua análise sobre a eleição de Obama, Bonilla-Silva diz que seu sucesso foi ter “adotado uma persona e uma política pós-racial. Ele se distanciou da maioria dos líderes dos Movimentos Civis, de seu próprio reverendo, de sua igreja e de qualquer um que o fizesse parecer “muito preto” e “muito político”. O que o fez ser visto pelos seus eleitores brancos como “o primeiro líder negro que eles se sentiam confortáveis em apoiar, porque ele não fala de racismo; porque ele os faz lembrar, sempre que tem a oportunidade, que é metade branco; porque ele é, nas palavras do senador Biden, (…), ‘o primeiro afro-americano influente que é articulado, inteligente, virtuoso e bem apessoado.’ ; porque Obama fala sobre unidade nacional; e porque ele, diferente de líderes negros odiados pelos brancos, como Jesse Jakson e Al Sharpton, não os faz se sentirem culpados pela situação das relações raciais no país.”

Acho interessante, principalmente, essa última frase, pois ela me remete ao significado do mito da democracia racial brasileira para a elite que estava tentando salvar o Brasil de seu destino de país condenado pela miscigenação, de seu racismo velado (na época, nem tanto) e segregador. O que me faz lembrar de uma entrevista de Gilberto Freyre ao JB, em 14/04/1979. Perguntado quem chegaria primeira à presidência da república no Brasil, o negro ou a mulher, ele respondeu:“O negro. Acho que ele tem mais possibilidades de chegar a essa culminância.” Gostaria que ele tivesse vivido para ver.; e que todos soubessem o casal Obama foi beneficiado por programas de ações afirmativas quando na universidade. Se Barack não tivesse recebido essa forcinha, quem seria hoje a presidenta dos EUA?

Curso prepara para cobertura especializada

Atividade está sendo oranizada pela ONU Mulheres e pela Fenaj.

Como o Mundo Afro, realmente, não tem fronteiras está aqui o aviso sobre uma atividade que vai acontecer em oito Estados brasileiros. Eu, inclusive, estou participando do projeto: a Fenaj e a ONU Mulheres, com apoio da Seppir e da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), estão promovendo o Curso de Gênero, Raça e Etnia para Jornalistas.

A atividade vai acontecer em oito capitais brasileiras: Belém (PA), Fortaleza (CE), Maceió (AL), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). O curso é gratuito e tem certificação da Fenaj e da ONU Mulheres.

As inscrições vão até o 3 de agosto e são voltadas para profissionais e estudantes de Jornalismo. Segundo a coordenação do curso, profissionais e estudantes de regiões metropolitanas, do interior e de regiões próximas aos oito estados podem fazer a inscrição diretamente no sindicato local de jornalistas ou solicitar informação por e-mail. Cada localidade terá o total de 50 vagas a serem preenchidas por jornalistas, repórteres, produtores, pauteiros, redatores, editores, fotógrafos, repórteres cinematográficos, de meios eletrônicos, e estudantes de Jornalismo a partir do 6º período.

O Curso de Gênero, Raça e Etnia para Jornalistas será realizado no período de 8 de agosto a 1º de setembro de 2011, tendo carga horária de 8 horas/aula, das 18h às 22h. O programa está baseado em dois módulos e duas atividades pedagógicas: Gênero, Raça e Etnia em Sociedade; Jornalismo, Ética e Diversidade; Leitura Crítica da Mídia; e Experiências e Trajetórias Locais: Identificando Novas Fontes. O curso tem como objetivo preparar jornalistas, profissionais da imprensa e estudantes de Jornalismo para a cobertura de pautas relacionadas a gênero, raça e etnia.

Vejam o calendário abaixo:

Data Localidade Contato
8 e 9/8/11 Amazonas – Manaus sindicato@jornalistasam.com.br
10 e 11/8/11 Pará – Belém sinjor@jornalistasdopara.com.br
15 e 16/8/11 Ceará – Fortaleza sindjorce@sindjorce.org.br
17 e 18/8/11 Pernambuco – Recife jornalistas-pe@ig.com.br
22 e 23/8/11 Alagoas – Maceió sindjornal@uol.com.br
24 e 25/8/11 Rio de Janeiro – Rio de Janeiro sindicato-rio@jornalistas.org.br
29 e 30/8/11 São Paulo – São Paulo jornalista@sjsp.org.br
31/8 e 1/9/11 Rio Grande do Sul – Porto Alegre sindjors@jornalistasrs.org
A iniciativa faz parte da cooperação estabelecida entre a Fenaj e a ONU Mulheres, celebrada no 34º Congresso Nacional dos Jornalistas, para o pleno cumprimento dos princípios dos direitos humanos e marcos internacionais referentes ao gênero, raça e etnia no Brasil e no mundo à luz da liberdade de imprensa.

O curso é desenvolvido com assessoria técnica e financeira do Programa Regional de Incorporação das Dimensões de Gênero, Raça e Etnia nos Programas de Combate à Pobreza da Bolívia, Brasil, Guatemala e Paraguai e do Programa Interagencial de Gênero, Raça e Etnia do Sistema ONU no Brasil, financiado pelo Fundo para o Alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. O curso ocorre no âmbito das atividades do Ano Internacional das e dos Afrodescendentes, estabelecido pelas Nações Unidas, e da Campanha do Secretário-Geral da ONU “Brasil: Una-se pelo fim da violência contra as mulheres”.

Informações: http://generoracaetniaparajornalistas.wordpress.com/ | grejornalistas@gmail.com

Participe das redes sociais do Curso de Gênero, Raça e Etnia para Jornalistas: twitter.com/grejornalistas e facebook.com/grejornalistas

Fonte: Mundo Afro

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Mulheres negras realizam desfile com trajes afro nos shoppings de Salvador

Os principais shoppings de Salvador foram palco de desfile surpresa de mulheres com trajes afros das religiões de matriz africana, na manhã desta segunda-feira (25). O deputado estadual Bira Corôa (PT-BA) esteve presente e conferiu de perto a intervenção, que chamou a atenção de empresários do ramo da moda para a ausência de vestimentas específicas para mulheres descendentes de africanos na data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher Negra na América Latina e Caribe.

“Beleza e consciência resumem bem a iniciativa”, definiu o deputado, que é presidente da Comissão de Promoção de Igualdade (Cepi) da Assembléia Legislativa da Bahia. O desfile foi uma realização conjunta do Coletivo de Entidades Negras (CEN), Fórum Estadual das Religiões de Matriz Africana, Rede Religiosa de Matriz Africana do Subúrbio e a Associação dos Terreiros de Cajazeiras e Águas Claras.

“Existe uma grande demanda por este tipo de roupa, mas, devido à falta dos trajes, as mulheres são obrigadas a consumirem os produtos confeccionados segundo a moda européia”, explica a coordenadora nacional de políticas de gênero do Coletivo de Entidades Negras (CEN), Lindinalva de Paula. Segundo realizadores do evento, as peças chegam a custar mais de R$ 150.

Para Bira Corôa, “não há justifica para cidades como Rio de Janeiro e São Paulo venderem estes produtos e a Bahia ficar de fora”. O parlamentar destaca ainda que a data tem um significado forte para a Bahia, “pelo número de mulheres negras que aqui vivem”.

HISTÓRIA – Em julho de 1992, acontecia o 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, reunindo representantes de mais de 70 países na República Dominicana; A partir de então, 25 de julho virou marco internacional da luta e da resistência da mulher negra em relação à opressão de gênero e de etnia. Na Bahia, além da Comissão de Igualdade da AL, o segmento conta com o apoio da Cese, CUT e Secretaria estadual da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos para promover, de 23 a 30 de julho, atividades educativas e culturais em reverência à data. Confira aqui a programação.