sábado, 17 de julho de 2010

Um monumento em honra de Milton Santos


Jaime Sodré Permitam-me apresentar o currículo; Professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas das USP; pesquisador 1A do CNPq; visiting professor, Stanford University, 1997/98; bacharel em direito, Universidade Federal da Bahia, 1948; doutor em geografia, Université de Strasbourg, França, 1958; doutor honoris causa das universidades de Toulouse, Buenos Aires, Complutense de Madrid, Barcelona, Nacional de Cuyo-Barcelona, Federal da Bahia, de Sergipe, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, Estadual de Vitória da Conquista, do Ceará, Unesp e de Passo Fundo. Prêmios: Internacional de Geografia Vautrin Lud, 1994; USP/1999(orientador de melhor tese em ciências humanas); Mérito Tecnológico, 1997 (Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo); Personalidade do Ano, 1997 (Instituto dos Arquitetos do Rio de Janeiro); Jabuti, 1997 (melhor livro de ciências humanas: A Natureza do Espaço, Técnica e Tempo). Medalhas: Mérito Universitário de La Habana, 1994; Comendador da Ordem Nacional do Mérito Cientifico, 1995; Colar do Centenário do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, 1997; Anchieta, da Câmara Municipal de São Paulo, 1997; Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, 1997; Lecionou nas universidades de Toulose, Bordeaux, Paris, Lima, Dar-es-Salaam, Columbia, Venezuela e do Rio Janeiro. Consultor da ONU, OIT, OEA e Unesco, junto aos governos da Argélia e Guiné-Bissau e ao senado da Venezuela. Publicou mais de quarenta livros e trezentos artigos em revistas cientificas em português,francês, inglês e espanhol. Baiano de família de professores, com o avô e avó professores primários, mesmo antes da abolição, que o ensinaram a olhar mais para frente do que para trás. Família remediada, os pais ensinaram boas maneiras, francês e álgebra. Foi aluno interno e neste ambiente começara a ensinar antes da faculdade. Foi para a faculdade de Direito formado-se em 1948. O fato: segundo o mesmo, seu maior desejo era a Escola Politécnica, mas havia uma ideia generalizada que esta escola “não tinha muito gosto de acolher negros, então fui aconselhado fortemente pela família – tinha um tio advogado – a estudar Direito, e daí mudei para a Geografia, que comecei a ensinar desde os quinze anos”. Havia uma crença na sociedade da época que na Politécnica os obstáculos eram maiores. Escrevera no jornal A Tarde, como correspondente na região do Cacau onde lecionava, por iniciativa do ministro Simões Filho que o descobriu para a imprensa. Ensinara na Universidade Católica e preparava-se para entrar na pública, onde fez concurso em 1960, após o doutorado em Geografia na França. O pleito: Quando saíamos do Colégio Central em turma na direção da Sé, era comum a brincadeira entre as estátuas do Barão do Rio Branco e Castro Alves. Os mais espirituosos diziam: “Castro Alves estendia a mão em direção ao Barão pedindo uns trocados para libertar os negros. Rio Branco, com a mão no bolso, dizia tenho mas não dou”. Coisas da juventude. Recentemente a Semur solicitou-me uma relação de estátuas e monumentos de negros e negras, em nosso espaço urbano. Inspirou-me para o que segue. Diante do currículo exposto do Professor Dr. Milton Santos, sinto-me autorizado a pleitear, quem sabe à própria Semur, a possibilidade da efetivação da estátua ou um busto do nosso Milton Santos, enriquecendo a cidade e expondo um modelo de talento e superação. Ainda de posse de uma das suas brilhantes frases, que estaria no monumento merecido – “Quem ensina, quem é professor, não tem ódio” – em tempo de cotas, melhor local não seria adequado, se não em pleno ambiente acadêmico da Escola Politécnica, cumprindo um desejo do grande mestre, calado outrora pela mentalidade maldosa, inibidora da época. Aposso-me de uma frase, lugar comum neste gesto, na certeza do apoio de muitos, “ao mestre com carinho”. Esta justíssima homenagem, traduzirá, com certeza, a admiração do povo brasileiro aos seus filhos ilustres, registrando aqui homenagem a alguém que o mundo não se cansou de reconhecer e homenagear. Placidez, serenidade, sorriso permanente aberto, humanidade, sabedoria, sem perder a ternura diante das dificuldades, poderão inspirar o escultor a modelar em material nobre este nobre baiano.

Jaime Sodré é historiador, escritor, professor universitário e religioso de candomblé