segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Começa o Censo do IBGE que afirmará país de maioria negra

O Censo do IBGE que começou neste domingo (1º/Agosto) confirmará o que estudos acadêmicos e a própria Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD), vem indicando: a soma de pretos e pardos auto-declarados passou de 51% e o Brasil já é um país de maioria negra.

O quesito raça é pesquisado desde o primeiro Censo realizado em 1.872 e se manteve no segundo, em 1.890. Nos Censos de 1.900 e 1.920 foi suprimido, retornando em 1.940, sob a denominação de cor. Em 1.970, sob a ditadura militar, voltaria a ser novamente suprimido, voltando a aparecer no de 1.980. Em 1.991, o quesito cor voltou a figurar no Censo, a exemplo da nova categoria “indígenas e amarelos”.

O Censo de 2010 mobilizará 191.972 recenseadores, 33.012 agentes censitários e 332 analistas censitários. Serão percorridos os 5.565 municípios e 58 milhões de domicílios serão visitados. O critério adotado pelo IBGE é autodeclatório. No quesito raça/cor as alternativas são: preto, pardo, amarelo, indígena e branco.

O Censo também deverá apontar o crescimento das religiões de matriz africana, graças a iniciativas como a do Coletivo de Entidades Negras (CEN), que lançou a campanha "Quem é de Axé diz que é". Segundo seu idealizador, o jornalista Márcio Martins Gualberto, colunista de Afropress "as religiões de matrizes africanas, por preconceito, ainda são associadas só a negros, pobres e analfabetos".

"Isso leva muitos a se dizerem católicos ou espíritas, em vez de umbandistas e candomblecistas", frisa Márcio. O Censo de 2000 registrou que 0,3% da população declarava ser adepto de religiões afro.

Não deixe sua cor passar em branco

Entidades do Movimento Negro de todo o país também retomaram a campanha "Não deixe sua cor passar em branco", que acontece desde 1.991.

De acordo com o Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil (2007/2008), coordenado pelo economista Marcelo Paixão, apenas duas regiões, das cinco do país, são majoritariamente brancas: as regiões sul e sudeste.

As demais – Norte, Nordeste e Centro-Oeste - tem maioria negra. Mesmo assim, também nas regiões Sul e Sudeste estudos indicam que o contingente de pessoas negras vem aumentando, de 33,4% para 40,2% na região Sudeste e de 15,2% para 19,7% na região sul

“Não temos qualquer dúvida de que a resistência em tratar de raça-cor e em tudo o que a discussão implica – como políticas de reparações, com fundo para superação do racismo histórico – é a mesma que teremos de enfrentar no tratamento das Religiões de Matrizes Africanas. Não dissimular a declaração de adepto ou adepta das religiões de Axé, trazidas e preservadas como memória ancestral por aqueles e aquelas que resistiram à travessia e morte nos porões dos navios tumbeiros é dignificar a humanidade que por princípio e necessidade é diversa e assim deve permanecer”, afirma o sociólogo Marcos Cardoso, uma das lideranças da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN).

Campanha é alerta

Segundo ele a campanha “Não deixe sua cor passar em branco!” tem o objetivo de sensibilizar os negros e seus descendentes para assumirem sua identidade histórica insistetemente negada. “Ao mesmo tempo é um alerta para a manipulação da identidade étnico-racial dos negros brasileiros em virtude de uma miscigenação que se constitui num instrumento eficaz de embranquecimento do país por meio da instituição de uma hierarquia cromática e de fenótipos que têm na base o negro retinto e no topo o ‘‘branco da terra'', oferecendo aos intermediários o benefício simbólico de estarem mais próximos do ideal humano, o branco”, acrescenta.

No Censo deste ano Cardoso disse que a campanha terá o mote “Sou negro e sou de Axé”, que é a forma de incentivar aos adeptos de religiões de matriz africana a assumirem sua identidade religiosa.

Identidade

Cardoso enfatiza a importância da população negra assumir sua própria identidade: “Enquanto estivermos, como estamos hoje – após 122 anos da abolição da escravatura – vivendo uma abolição não conclusa, precisaremos reafirmar nossa etnia do ponto de vista político; econômico; habitacional; na área da saúde; na área da educação; nas condições de supressão da liberdade que não se dá apenas aos presidiários, mas a pais e mães que clamam por políticas para garantir que seus filhos e filhas possam crescer com dignidade e sem ameaças”, afirma.